Quem disse que é fácil sair do armário?

Alguém me disse, um dia desses, que achava fácil eu me assumir lésbica porque no meio artístico todos são mais "liberais", "excentricidades" são permitidas e a "fama" nos torna imunes à homofobia. Ora, se isso fosse verdade teríamos centenas de artistas brasileiros assumidos e, obviamente, não é isso que acontece.
Alguns atores não gostam nem de representar personagens gays, acreditando que isso possa prejudicar a sua imagem. Há exceções, claro, como por exemplo recentemente Rodrigo Santoro no filme "Carandiru". Mas quando se trata de fazer o papel na TV, que atinge milhões de lares, a coisa muda de figura. Na semana passada, li uma notinha comentando que depois de sucessivas recusas, somente Maria Fernanda Cândido topou interpretar uma lésbica no seriado "Os Normais".
Por isso, penso que a questão da facilidade em se assumir não tem nada a ver com ser famoso ou ser anônimo. Recebo muitos e-mails de profissionais de outras áreas, como professores, publicitários e empresários, que são francos em relação à própria homossexualidade no ambiente de trabalho e não são discriminados. Por outro lado, muitos me escrevem dizendo que sofrem vários tipos de discriminação e outros afirmam nem ousar se expor assim, por temer o preconceito.
Portanto cada caso é um caso. O que sei, por experiência própria e por relatos que me são feitos, é que sair do armário não é a coisa mais fácil do mundo, mas pode também trazer gratas surpresas. Às vezes, justamente quem você pensou que reagiria mal se revela uma pessoa compreensiva e carinhosa. Da mesma maneira, aquele que se dizia tolerante acaba se ofendendo e pode te dar as costas.
A saída do armário provoca mesmo as mais variadas e imprevisíveis reações. Tudo bem: não se pode agradar a todos, mas, por outro lado, podemos viver melhor, sem precisar fingir e às vezes isso é conquistado a duras penas. E daí? Quem disse que era fácil sair do armário? Lembre-se de que sem atrito não há fogo, não há sexo, nem gozo!
Vange Leonel

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