Entrevista - Alan Lucas do E-Campinas

Alan (foto ao lado) tem 16 anos, é estudante e trabalha de office-boy na empresa de sua mãe. Mesmo com pouca idade, ele é um dos coordenadores do E-Campinas, célula do Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados.

Como você conheceu o E-Jovens?
Conheci através de um amigo meu do orkut que participava do grupo, ele me falou e eu me interessei. Certo dia, como ele mora no mesmo bairro que eu, me deu carona, e então pude conhecer o grupo E-Campinas pessoalmente.

Mesmo conhecendo o E-Jovens, como surgiu a idéia do grupo E-Campinas?

Bom, a idéia não só do E-Campinas, mas também de outros grupos E-Jovensespalhados em diversas cidades do Brasil foi criada pelo Deco, que achava que o grupo precisava ser mais que só um "grupo na internet", era necessário uma interlocução direta com os jovens, ainda mais que muitos deles não tem acesso a internet. Daí a necessidade de um grupo real.

O que é desenvolvido nestes grupos? Ou o que se pretende discutir?
No E-Jovem a intenção é mostrar que eles não são os únicos gays (e, por gay, entenda-se GLTTB - Gays, Lésbicas, Travesis, Transexuais e Bissexuais) no mundo, nossa intenção é levar notícias do que tem acontecido atualmente no mundo gay e levar informações, pois, o preconceito é na verdade a falta dela. Levando informações, eles poderão se defender de um ato de homofobia (que tambem é uma das lutas do Grupo E-jovem, acabar com ela). Além disso o grupo tem projetos como cursos de teatro, reciclagem e customização, dando ao jovem oportunidade de aprender coisas novas, além de termos o Projeto Escola Jovem (PEJ) que visa levar a discussão da homossexualidade nas escolas e conscientizar as alunos, professores e pessoas em geral.

Muitos adolescentes tem medo de se assumir? Vocês conversam sobre isso?
No grupo é uma das coisas mais discutidas, muitas pessoas se assumiram depois de frequentar o grupo, pois viram que muitos outros tiveram apoio dos pais e dos amigos (a maioria, infelizmente, apenas dos amigos, mas já é um passo). Claro que muitos têm medo de se assumir, por causa da religião dos pais, ou porque são muito preconceituosos. Mas eles veêm que, ao se assumir, isso gera um grande alívio. E mesmo que os pais não aceitem de cara, eles podem pelo menos respeitar. Mesmo que demore um tempo. Pois os pais não podem fazer nada contra os filhos, nem xingar, nem bater e muito menos expulsar de casa, segundo vários artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Isso é garantido por lei.

Como foi, para você, se assumir?
Sempre tive um pouco de receio, apesar de minha mãe ser bem mente aberta, sei lá, aquele medo dela mudar o jeito de me tratar. Enrolei, enrolei, até que um dia resolvi contar, estava namorando e isso me deu mais força. Enrrolei o dia inteiro, não sabia como contar. Mas o momento certo sempre chega. Eu tava no quarto da minha mãe, e uma amiga dela estava junto, recebi uma mensagem do meu então namorado quando a amiga dela disse: "esse brilho no olhar e esse jeito... huuun, deve estar apaixonado, não?", acho que ela não podia ter falado coisa melhor, respondi que estava namorando. Dei uma pausa e minha mãe disse que havia percebido já, então completei a frase "... um menino", neste momento subiu aquele frio na barriga, mas então ela nem se espantou, apenas perguntou quem era, quantos anos tinha, como se eu tivesse falado que era menina. Minha relação com ela não mudou em nada. Pelo contrario, melhorou, e me dou super bem com ela. Ela não só me respeita, como me aceita. Levei meu então namorado para elas conhecerem, e fiz isso com outros namorados também (outros 2). O último e meu atual namorado, estamos juntos há 5 meses e ele e ela se adoram, inclusive ele dorme em casa de final de semana, sem nenhum problema.

A homossexualidade, socialmente, ainda é vista como algo negativo. É possível reverter esse quadro? Ainda mais sendo jovem e trabalhando com jovens?

Esse quadro é difícil mudar de uma hora para outra, mas com garra e dedicação esse quadro é mudado aos poucos, assim como vem sendo feito, é só comparar a vida dos homossexuais de 40, 50 anos atrás com a vida de hoje. Acho que trabalhar com jovens, apesar do preconceito sofrido pelo próprio grupo dos homossexuais, é uma maneira mais eficiente, pois estamos "educando" uma nova geração ainda não influenciada pelas mentes dos adultos e das igrejas preconceituosas, e que se tornará uma geração menos preconceituosa, por isso que temos o PEJ, para começar essa educação desde cedo. Mas é um processo longo.Eu, particularmente, acredito que a leitura e a informação é uma das grandes aliadas que temos contra a ignorância.

O grupo, além dos trabalhos e discussões, incentiva a leitura?

Como já disse, nós levamos informação para os jovens, mas a parte da leitura era fraca, comentávamos de livros para os jovens, mas muitos não corriam atrás, agora, estamaos trabalhando em cima de um livro chamado "Crônicas de um gay assumido", do militante Luiz Mott. Cada semana é discutido um capítulo.

Além da leitura, a militancia, a luta por nossos direitos, que não temos, também é foco do E-Campinas?

Sim, a gente não só enfoca como atuamos nela como também temos levado informações de fórums e eventos que participamos. Nem todos vão, pois não são todos que querem atuar na militância, mas temos ido à bastante eventos ligado à essa área. Quem quer ir, vai. Quem não quer, não vai.

Quais as regiões, bairros e vilas que o E-Campinas trabalha. Se eu for de uma cidade próxima, posso participar?

O ideal, que é difícil de se atingir, é ter E-jovem na maior parte das cidades do Brasil, mas se você morar em um cidade próxima que não tenha E-Jovem (Ou mesmo que tenha), você pode participar das reuniôes sim, elas são abertas ao público, tanto para homo, bi como para Heterossexuais. Também é aberto para travestis, transsexuais e transgêneros. A sede do E-jovem é localizada no centro de Campinas, por tanto, a gente atinge todas as pessoas, de qualquer região, bairro ou vila.

Muitos jovens, não assumidos, visitam o portal Armário X todos os dias. Em muitos casos, eles não tem um amigo para conversar ou um grupo destes para trocar idéias. O que você recomenda a estes jovens?

Inclusive eu visitava muito o portal Armário X, foi outra coisa que me deu força para me assumir. Eu recomendo à esses jovens que entrem também no site do E-Jovem (http://www.e-jovem.com/) e procure por uma sede do E-jovem mais perto de sua casa, ou então se morar longe de qualquer sede, recomendo apenas entrar para a lista de discussões e trocar idéias com o pessoal. Mas o ideal seria procurar um grupo de gays mais próximo a ele.

Quem quiser participar do E-Campinas, o que deve fazer? Quem deve procurar?

Eles devem entrar em contato com algum dos coordenadores do E-jovem para obter mais informações, e comparecer em nossa sede para as reuniões.

Os contatos e o endereço serão passados abaixo:
Alan. Coordenador Social MSN: alan.pagode@hotmail.com Tel: (13) 9765-5111

Aira. Coordenadora Política e de Eventos MSN: corerato@hotmail.comTel: (13) 9744-7143

Deco. Fundador do Grupo MSN: sk83rb01@hotmail.comTel: (13) 9136-1950

Obrigado Alan, pela entrevista, gostaria que deixasse um recado para todos os visitantes do Armário X. À todos os visitantes do Armário X gostaria de falar que todos vocês são normais independente da sua orientação sexual, ou identidade de gênero. Ao se assumir continuarão sendo um bom filho, sobrinho, neto, amigo, etc... porque sempre foi assim, se assumir não irá mudar isso, lutem pelos seus direitos e busquem estar sempre antenados no que acontece no mundo GLS.
Sempre aprenda coisas novas. Se cada um fizer sua parte daqui um tempo teremos um mundo bem melhor. E a quem interessar, entrem no site, entrem para a lista de discussões (que também é filiada ao portal Armário X), vá aos encontros presenciais (endereço abaixo), pois é sempre bom ter gente nova no grupo. O importante é não ficar parado. E participar. Participar muito.

Endereço do E-Campinas: TABA, Rua José Paulino, 1389 - Centro2 quadras paralelamente à direita (no sentido dos carros) da Av.Francisco Glicério (principal avenida de Campinas)próximo à ESAMC e à FGV.

Oficinas de Customização e Reciclagem - de segunda a quinta, das 13 as 15h.

Oficina de Teatro - Todos os sábados, as 16h

Bate-papo e leituras - Todos os sábados, as 18h



Entrevista retirada do Site: http://www.armariox.com.br/

O Grupo União felicita e agradece pessoas assim como Alan que lutam pelos direitos dos homossexuais

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