RELAÇÕES OLÍMPICAS - Elas se amam, estão juntas, mas competem em tudo

RELAÇÕES OLÍMPICAS - Elas se amam, estão juntas, mas competem em tudo

Elas competem em tudo. Quem tem o melhor emprego, o melhor salário, o melhor ambiente de trabalho. Quem se arruma melhor, quem tem as melhores roupas, as mais caras, o cabelo mais bonito ou os dentes mais perfeitos. Se uma compra um carro, a outra quer comprar um mais caro. Quando não pode, frustra-se de uma maneira tão profunda que passa semanas deprimida.

Quando saem com amigos, ficam exibindo suas habilidades, novas aquisições, falando cada vez mais alto para chamar mais atenção para si e ofuscar a outra. No desespero, ao perceberem que estão perdendo para a companheira, algumas invertem o jogo e passam a diminuí-la retrucando cada “exibição” com um comentário maldoso.

- Comprei um carro novo!
- Vocês precisam ver como bate aquela porcaria, parece uma carroça – retruca a outra.

Acredite, relações assim existem. São as que eu chamo de “Relações Olímpicas”, com direito a competições em diversas modalidades. Popularidade, beleza física, capacidade de sedução, poder aquisitivo e até competição para saber quem é a mais “coitadinha” e tem os maiores problemas. Nem sempre a competição está claramente definida ou a nível consciente. Muitas vezes as pessoas participam deste jogo sem perceber. A outra passa de companheira a adversária, alguém que poderá impedir o seu progresso, uma ameaça constante ao seu brilho.

Acaba-se transportando a competição predatória, tão comum na nossa sociedade, para dentro da relação amorosa. Estamos, todas, envoltas pelo consumismo, a inveja, o exibicionismo, pelo desejo narcisista de sempre ser a melhor. Fatalmente, acabamos contaminadas por estes sentimentos destrutivos e aplicando-os também nas nossas relações afetivas, familiares e amizades.

Quem já não teve uma pessoa que, de melhor amiga, transforma-se em sua pior inimiga? Sentindo-se inferior a você, ela passa a atacá-la, maldizendo, difamando, tentando a qualquer custo fazer com que você pareça menor para que ela possa se sentir maior e melhor que você de alguma maneira. Convenhamos, é muito mais fácil aparecer diminuindo o outro do que por esforço próprio. Isso acontece também entre irmãs, primas, mães e filhas, companheiras de trabalho e até vizinhos.

Quando esse cabo-de-guerra sobrepõe-se ao amor, ele passa a ocupar o espaço que deveria ser preenchido por admiração, carinho e respeito. Sem sentir, a relação acaba e pior, nenhuma das duas ganhou com isso. Neste tipo de competição, só há perdedoras. Há que se extinguir a afirmação que só somos completos, queridos e amados se ganhamos sempre. Muitas vezes, quando perdemos algo, ganhamos experiência, maturidade. Então, perder também é uma maneira de ganhar.

É saudável querer progredir, ampliar horizontes, viver mais e melhor, mas é preciso, porém ficar sempre atenta ao complexo de inferioridade, não permitindo jamais que ele se instale em sua vida ou na da sua companheira.

Crescer junto é muito mais gostoso que ascender só. Pense nisso.