Paradas Gay, porque e onde tudo começou.


A institucionalização do preconceito.
O surgimento dos Estados modernos fez com que o preconceito estranhado nas religiões migrasse para os códigos e as leis dos governos constituídos. A maioria das nações cristãs e mulcumanas tornou a sodomia um crime passível de severas punições. Até o século XVIII, eracomum que os homossexuais fossem presos e até mortos em fogueiras ou enforcados, inclusive aqui no Brasil.
A França, em 1791, em pleno processo revolucionário, foi o primeiro país a descriminalizar a sodomia, mas tal audácia de pensamento libertário demorou a ser seguida pelas outras nações. A Alemanha, por exemplo, só veio suspender o seu infame parágrafo 175 – que definia a homossexualidade como crime e foi utilizado pelos nazistas para enviar milhares de gays e lésbicas a campos de concentração – quase dois séculos depois da França, em 1969!
Hoje a situação é bem melhor em relação à tolerância, mas ainda há regiões do planeta – como Guiana, todos os países islâmicos, Mianmar – que tem leis específicas de discriminalização e punição da homossexualidade.
No século XIX, com a criação da psicanálise por Sigmond Freud e seus seguidores, houve uma gradual mudança da percepção da sexualidade em geral da homossexualidade em particular. Cientistas em especial os médicos, passaram a estudar o comportamento sexual humano e a criar novas categorias de doença e saúde.
É nesse âmbito que aospoucos vai surgindo a identidade homossexual, assim como mais trade a do transgênero. Comportamentos que antes eram vistos como possessão pelo demônio ou pecados de luxúria começaram a ser enquadrados em diferentes vertentes.
Terminologia
O termo “Homossexual” foi usado pela primeira vez em 1869, num ensaio científico do alemão Karl-Maria Kertbenny, para se referir ao impulso sexual desmedido por pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, “heterossexual” foi um termo criado muito mais tarde, e até 1930 também significava o portador de uma doença, a do impulso sexual desmedido por pessoas do mesmo sexo.
Foi apenas com as variadas revoluções de comportamento acontecidas a partir da década de 1960 que o sexo não-reprodutivo – mesmo entre casais do sexo oposto – deixou de ser considerado algo doentio e finalmente aceito como comportamento natural e saudável.
A homossexualidade foi assim definoda como algo muito diverso da “normalidade”, um desvio patológico que não mais tanto um pecado ou um crime, mas acidente da natureza. Os estudos  e acompanhamentos de caso por cientistas, em teoria isentos de julgamenentos morais, trouxeram à luz uma série de informações interessantes, que não corrobotavam as noções religiosas de escolha e pecado.
O próprio Freud propôs que o ser humano seria bissexual por natureza, e que a homossexualidade, apesar de não ser uma vantagem, tampouco constituía algo degradante nem podia ser classificada como doença. No meio científico da época, começaram a aparecer, entre as teorias de patologia, aquelas que mostravam que a homossexualidade não equivale a qualquer disturbio da personalidade. Criou-se um campo de debate que daria as bases para as lutas pela igualdade do século XX.

A Revolta de Stonewall
O século XX foi de extremos para as minorias sexuais. Iniciou-se vendo muitos países condenando qualquer desvio da “normalidade” como crime, pecado e doença. O autoritarismo que imperou nos anos 30 e culminou nos vários regimes fascistas foi especialmente cruel na perseguição aos homossexuais,  permitindo inclusive experiências “científicas” de correção da “anomalia” como lobotomia, castração, choques elétricos e outras barbaridades naqueles que eram acusados de “desviantes”.
A Segunda Gerra Mundial, brutal e imensa em extensão, serviu para colocar um fim em muitas coisas, facilitando o questionamento das estruturas tradicionalistas da sociedade. Apesar de demorarem para maturar, idéias de liberdade em relação às muitas restrições começaram a surgir em vários campos.
Essa inquietação se manisfestou em uma série de movimentos sociais, em geral chamados de revoluções. Surgiram os movimentos pacifista, hippie, de liberdade sexual, feminista, de igualdade entre as raças e, finalmente, de igualdade para as minorias sexuais. As décadas de 60 e 70 foram uma efervecência de revoltas e protestos na Europa, na América do Norte e na Austrália.
O movimento glbt toma por marco inicial justamente um desses acontecimentos espetaculares, chamado de revolta de Stonewall. Antes já tinham surgido algumas organizações em prol dos direitos dos homossexuais, como Mattachine Cociety fundada em 1950 em Los Angeles, e o COC, aberto em 1946 na Holanda, assim como grupos de estudantes em grandes universidades norte-americanas, mas o assunto ainda era quase impossível para a sociedade.
Na noite de 28 de junho de 1969, isso mudou. Stonewall  Inn é um bar em Greenwich Village, Nova York, que desde aquela época era frequentado por gays lésbicas e trangêneros. A polícia tinha o hábito de fazer batidas de surpresa e intimidar os clientes com revistas e eventuais detenções, o que resolveu fazer naquela noite. Por alguma razão , diz a lenda que por conta da tristeza pela recente morte da diva Judy Garland, os frequentadores do bar que foram levados aos camburões se irritaram e reagiram, sendo apoiados pela multidão que se formou para assistir à operação policial. Aos gritos de “Gays Power” os homens e mulheres presentes começaram a atirar pedras e garrafas nos policiais, que chamaram reforços e reagiram com brutalidade.
Os confrontos duraram toda a madrugada e repetiram nas noites seguintes, chegando a envolver dois mil civis e quatrocentos policiais da tropa de choque. A tenacidade dos homossexuais deixou as autoridades muito surpreendidas e teve a peculiaridade de ser reportada mundo afora. O evento se transformou num símbolo de como gays e as lésbivas começavam a perceber a si mesmos, a saber, cidadãos que exigiam respeito e direitos iguais.
A data foi tomada como início do histórico movimento LGBT e, a partir do ano seguinte, 1970, foi comemorada em paradas do orgulho em Nova York e São Francisco, depois se espalhando para capitais do planeta.
Começava assim a era das paradas e movimento LBGT, em que o preconceito sairia de moda e o respeito pela diversidade daria as cartas.

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